A NR 10 precisa abordar o tema: Vestimentas de Proteção para os Eletricistas que trabalham em Manutenção de Linhas de Transmissão Energizadas pelo Método ao Potencial

A NR 10 precisa abordar e indicar as vestimentas de trabalho necessárias e obrigatórias para os eletricistas de linhas de transmissão que trabalham ao potencial (ver figura 1 abaixo).

Figura 1: Eletricista trabalhando ao potencial em Linha de Transmissão

Este tema vem sendo postergado desde a última revisão da NR 10, em 07 de dezembro de 2004, especialmente a partir da recomendação do seu item 10.2.9.2 que diz “As vestimentas de trabalho devem ser adequadas às atividades, devendo contemplar a condutibilidade, inflamabilidade e influências eletromagnéticas.” Além disso, o novo texto proposto na revisão da NR10 deve tratar com mais detalhes o tema.

Especificamente sobre o item 10.2.9.2 apresentamos o breve histórico e comentário técnico abaixo:

“Os EPI utilizados em serviços de construção, operação e manutenção de redes ou equipamentos de energia elétrica, destinados à proteção contra acidentes devido a choques e descargas elétricas (arcos elétricos), precisam ser especificados para o nível da tensão elétrica de trabalho e energia calorífica do arco elétrico.

Em redes de 13,8 kV, por exemplo, o capacete de segurança utilizado pelos eletricistas está especificado para um teste de contato a 20 kV. Da mesma forma, as luvas isolantes especificadas serão da classe 2 (tensão de teste 20 kV) e devem ser protegidas contra abrasão por luvas de cobertura.

Esses EPI, em função da natureza das atividades desenvolvidas, também precisam estar dimensionados para a exposição a temperaturas elevadas e ao desprendimento de partículas quentes, em caso de acidentes. Dessa forma têm que atender também a requisitos de inflamabilidade.

Neste caso, destaca-se a proteção de inflamabilidade das vestimentas RF (resistentes ao fogo), das luvas isolantes e de cobertura, dos protetores faciais e até mesmo dos cinturões de segurança utilizados por eletricistas que trabalham em redes ou equipamentos elétricos.

Com o avanço dos estudos de energia incidente por arco elétrico e a publicação da NBR 17227 esses equipamentos deverão estar de acordo com a energia a que estarão expostos em seus postos de trabalho e conforme o método/distância de trabalho empregado.

Para atividades de bombeiros ou brigadistas da empresa são utilizadas vestimentas de combate a incêndios e outros aparatos (cilindros de ar, máscaras etc.). Essa roupa é utilizada durante serviços de brigada, consistindo em calças, camiseta, jaqueta, suspensórios, botas, luvas, capuz e capacete. Todos esses itens são antichamas e fáceis de vestir, com fechos de botão e velcro.

Da mesma forma, os EPI para eletricistas devem ser especificados quanto à condutibilidade ou condutividade elétrica – capacidade que cada material tem de conduzir corrente elétrica – quando são realizados serviços em redes ou equipamentos elétricos pelo método ao potencial e ainda em outros trabalhos com risco de exposição a campo eletromagnético, como por exemplo na medição desses campos em subestações.

Anteriormente no setor elétrico brasileiro no que se refere à condutibilidade, a recomendação ELETROBRÁS/GCOI/SCM 032 tratava de vestimentas condutivas tecidas com fios de nylon recobertos por prata. Essa recomendação incluía medições de valores de resistências ôhmicas entre pontos pré-fixados (braços e pernas, por exemplo).

Com a introdução em 1980 de novos tecidos, NOMEX por exemplo, tais vestimentas condutivas eram aceitas levando-se em conta somente o teste de continuidade elétrica.

A vestimenta condutiva é acompanhada de diversos componentes de blindagem do eletricista, tais como: botas, meias, luvas e ligas condutivas, bastões etc.

Algumas empresas vêm utilizando as duas vestimentas: a vestimenta RF sob a vestimenta condutiva, o que provoca um elevado desconforto térmico para os eletricistas. Em alguns casos são utilizadas apenas as vestimentas condutivas com roupas de baixo de algodão ou tecido RF.

Evidentemente que as funções a serem contempladas às duas proteções, carecem de estudo e critérios para indicação desses uniformes, que também devem estar embasados em análise e avaliação de riscos e no cálculo da energia incidente do arco elétrico.”

Retomando o assunto específico, vestimentas dos Eletricistas de LT Energizadas, lembramos que as Linhas de Transmissão – LT permitem o envio de grandes blocos de potência a grandes distâncias, sendo uma parte integrante, inseparável e admirável (ver Figura 2 abaixo) de um Sistema Elétrico de Potência – SEP.

Figura 2: A ocupação harmoniosa de espaços pelas Linhas de Transmissão

Os eletricistas e técnicos do SEP – Sistema Elétrico de Potência são verdadeiros heróis, em especial, os eletricistas e técnicos que trabalham em Linhas de Transmissão Energizadas.

Os trabalhos desses profissionais e o contexto de complexidade e desafios, como a utilização de níveis de tensões elétricas superiores a 500.000 V em Extra Alta Tensão, podendo chegar a 1.200.000 V em corrente alternada e ± 1.000.000 V CC, em se tratando de Ultra Alta Tensão.

As Linhas de Transmissão são construídas e operadas normalmente em grandes alturas, passando por consideráveis obstáculos naturais, como florestas, montanhas e rios, propiciando travessias realmente desafiadoras (ver Figura 3 abaixo), adicionados a climas muito quentes ou frios, conforme as regiões e época, em nosso país.  

Esses aspectos nos estimulam a continuar a desenvolver o nosso trabalho e levantar questões importantes de estudo, como Engenheiros Eletricistas e de Segurança do Trabalho, procurando sempre ouvir e aprender com técnicos e eletricistas do setor elétrico.

Em trabalhos técnicos de auditoria, perícias etc. realizados em equipes de Linhas de Transmissão, não nos cansamos de admirar o nosso robusto sistema elétrico e a engenharia empregada a fim de que a interligação propicie a chegada da energia à população de forma confiável, com eficiência, ou seja, com o mínimo de perdas.

Figura 3: Cesar e equipe de trabalho inspecionando Linhas de Transmissão

Certa feita, ao observarmos os eletricistas trabalhando em Linhas de Transmissão Energizadas, ao potencial, numa região quente e à época de verão, constatamos o seguinte:

  • Eletricistas usando capacetes de segurança, vestimentas condutivas, botas condutivas, luvas, meias, ligas, cinturão de segurança, enfim, todos os equipamentos de proteção necessários à execução do trabalho;
  • Ao final das tarefas um deles ficou com as botas cheias dágua, proveniente do suor que descera da cabeça aos pés;

Esse acúmulo de suor, obviamente, não previsto no contexto da proteção para o trabalho ao potencial pois quando o eletricista usa a vestimenta condutiva, segundo a Lei de Faraday – A gaiola de Faraday opera devido a um campo elétrico externo que leva as cargas elétricas dentro do material condutor da gaiola a serem distribuídas de modo a cancelar o efeito do campo no interior da gaiola –  o eletricista estará dentro da Gaiola de Faraday, sabendo que o potencial no interior do condutor é nulo, então ele pode caminhar pelo cabo, como um passarinho, pois ele está AO POTENCIAL. Portanto o acúmulo de suor nas botas é um fator a ser analisado.

Na prática, um eletricista cuidadoso vai higienizar a sua vestimenta condutiva logo após o uso. Da mesma forma vai cuidar também dos seus calçados e meias, senão a vida útil da vestimenta será reduzida de muitos anos a poucos meses de trabalho.

Outro problema de não ser higienizada corretamente e após o uso, é o aparecimento de dermatites e outros problemas de pele semelhantes nos usuários.

Eles têm que utilizar roupas de baixo, uma cueca e uma camiseta, que muitas vezes não é do material adequado, porque não pode ser um material sintético, pois em caso de um curto-circuito e fogo o risco é agravado, podendo inflamar internamente e derreter e afetar as suas partes íntimas, como alguns casos reais já ocorridos no setor elétrico.

Antes da NR 10 de 2004, o Eletricista de Linhas de transmissão, em trabalhos ao potencial, usava somente a vestimenta condutiva e seus apetrechos complementares (bota, liga, luvas, meias, bastão equalizador etc.).

Mas a partir da NR 10 adicionou-se mais um detalhe, que a boa técnica passou a recomendar:

Os eletricistas deveriam também usar uma vestimenta resistente ao fogo (RF), e esta, para ser utilizada sob a vestimenta condutiva.

O cenário acima citado de desconforto natural de utilização da vestimenta, com certeza ficaria aumentado. E mais ainda, certamente alguns usuários e a própria fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, não devem ter conhecimento real do problema, na prática (Ver Figura 4).

Por outro lado, alguns colegas dos SESMT afirmam que utilizam apenas a vestimenta condutiva, outros afirmam utilizar as duas, concomitantemente.

Figura 4: Eletricista utilizando proteções

Portanto, o principal apelo deste artigo é levantar a questão em nível nacional, com uma apreciação da questão pela CTTP da NR 10, como fizemos em 2016 com a questão da descida de um eletricista do meio do vão de uma Linha de Transmissão”, até então sem um método adequado e rápido de resgate (Ver Figura 5 abaixo).

Conseguimos fazer contato com especialista dos EUA e incluímos a sua participação num evento aqui no Brasil, no Centro de Treinamento da COPEL, quando desceram em apenas 3 minutos um eletricista – simulando um acidentado – do meio do vão entre 2 torres de transmissão.

Figura 5: Simulação de Resgate de Eletricista de Linha de Transmissão

Concluindo, perguntamos a todos os leitores:  será que não podemos trabalhar junto numa ideia em que essa vestimenta condutiva seja efetiva e proteja também em situações em que se possa ocorrer um arco elétrico? Poderíamos organizar um Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento – P&D Coletivo com as empresas do Setor Elétrico, contemplando a técnica e o conforto?

Temos notícia de recente estudo técnico de avaliação de Vestimentas Condutivas também com proteção para arco elétrico (com valores de ATPV elevados) em uma grande empresa brasileira do Setor Elétrico.

Autores: Cesar Vianna Moreira e Geraldo Bernardino Guedes, com a colaboração de Luiz Henrique Zaparoli – Engenheiros Eletricistas e de Segurança do Trabalho

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